Falar de uma produção escrita sem mencionar o autor, me é impossível.
Convivi com Ricardo em alguns eventos científicos, fora e dentro do país, mais de perto no Congresso Ibero-americano de Psicogerontologia, promovido em parceria entre a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e a Universidad de la Republica (Uruguai), realizado em São Paulo (2009), e outro em São Luís, no Maranhão (2012).
Aquele rapaz interessado e curioso com a cultura, me chamou a atenção.
À distância acompanhei outras iniciativas, como a realização de programas televisivos sobre envelhecimento, iniciativa arrojada nem sempre bem vista dentro de segmentos da área. É esse mesmo amplo e ousado olhar que encontro em Narrar el envejecimiento desde la identidad.
A indagação inicial deste livro é inquietante e a represento através de uma pergunta: O que acontece com os sujeitos que experimentam o envelhecimento?
Não podemos esperar respostas simples, ao contrário, aponta para a rede de fatores intervenientes: passado, expectativas e as transformações biológicas. O autor parte da premissa que algo se interrompe no sujeito e no seu entorno.
Mas como não cair nas armadilhas de um discurso negativista sobre o envelhecimento, tão nosso conhecido?
A fundamentação teórica interdisciplinar é posta como necessária para abraçarmos a rede que pode nos aproximar da compreensão dessa realidade que valoriza dadas etapas da vida em detrimento de outras. A identidade, compreendida como dinâmica e mutante, nos aproxima da apreensão dessas transformações temporais que ocorrem no decorrer do desenvolvimento humano.
Ricardo percorre teorias da psicologia focado na compreensão do sofrimento psíquico no envelhecimento, material precioso para se repensar as práticas clínicas, entrecruzando fatores culturais que incidem e alteram as direções na construção da vida de cada pessoa.
Ao buscar compreender e modificar comportamentos e processos mentais, o psicólogo se depara com um emaranhado de fatores que interagem de forma complexa, tornando a tarefa de intervenção uma jornada repleta de desafios.
Trata-se da complexidade inerente à investigação psicológica e a necessidade de uma abordagem desafiadora por parte do profissional. Questões que nos desafia a uma gerontologia crítica que destaque as forças e diversidades do envelhecimento, visando políticas públicas para o antes e o depois.
Tenho a oportunidade de constatar neste livro, as virtudes de um profissional de psicologia que ousa enveredar por áreas e autores, rompendo a formação disciplinar, imprescindível para a construção de uma Psicogerontologia que deseja colaborar com a sociedade contemporânea.
Ruth Gelehrter da Costa Lopes
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