Vai longe a série de volumes em que os Autores do curso Memórias Lúdicas registram Narrativas da Contemporaneidade, a proposta que lhes faço, há anos. Em 2020, sai a publicação do livro Narrar é LongeViver, Caminhos da Memória (468 páginas), produzido durante o ano de 2019, nos encontros presenciais da USP-Maria Antônia. Nele, o grupo mostra o vigor da Escrita Autoral, ao recuperar experiências vividas e presentificar, na produção simbólica, cenas do passado. Mas foi depois do surgimento da Covid-19 que se intensificou a criatividade on-line e a oficina ganhou novo fôlego. Neste mesmo ano, a experiência dos encontros a distância resultou no livro 2020: O ano em que o mundo se afetou. Nele, o grupo narra histórias que contemplam a dificuldade de se adaptar a uma nova realidade, seja o confinamento, seja os encontros por meio de equipamentos eletrônicos. Um grupo fiel e novos participantes aderiram, nas oficinas de 2021, a uma atitude prazerosa, frente à continuidade da epidemia e seus furiosos vírus: escreveram, então, no primeiro semestre, suas Memórias Lúdicas, no ABCedário de autores, no segundo semestre de 2021, o livro Escrita Lúdica – do imaginário persistente. No ano de 2022, novamente tivemos dois ciclos de oficinas. O tema do primeiro semestre dá o título à edição Biografar, Histórias de Vidas (In)Comuns. O tema do segundo semestre, que encantou a todos, é Ruas de nossa Vida, que atende ao impulso de narrar o que se passa no espaço sociocultural à nossa volta: partilhas e confrontos com o Outro e sua circunstância, descobertas solidárias e cotidianos da cidadania.
Na dinâmica de laboratório que coordeno, também escrevo a cada um dos dez encontros; ou melhor, cruzamos as escritas e trocamos depoimentos sobre os cavacos do ofício. São quartas-feiras gloriosas de intercâmbio desprendido. Assim, a riqueza das histórias de nossas ruas se põe, agora, à disposição de nossos leitores. A primeira parte da edição reúne Cadernos de Textos em que os Autores encenam vários espaços de sua biografia; a segunda parte, a Escolha Autoral selecionou Itinerários específicos; e, na terceira parte, comparecem meus textos de motivação semanal nos dez encontros da oficina do segundo semestre de 2022.
Devo me penitenciar por só ter escolhido as ruas onde morei, em São Paulo. Seria impossível abarcar toda a itinerância: nascida em Portugal, em 1942, deslocada para o Brasil tão logo fiz onze anos, vivi em Porto Alegre até dezembro de 1970, quando mudei para a capital paulista. Quantas ruas ficaram de fora. Mas São Paulo e os 52 anos de entrega a esta inacreditável cidade me deram alimento para o testemunho que aqui escrevo. (Quem sabe, se engenho e vida permitirem, me lançarei a outras geografias).
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