Reproposta: para todas as idades (Grátis)

Ao contar como a DA, Doença de Alzheimer, entrou na nossa vida, garfando mamãe aos pouquinhos, compartilho com pessoas que vivem situações semelhantes a esperança de continuar suas vidas sem embarcar no bonde do desespero. Este ninguém merece. Se alguém pensa que conviver com o Alemão é fácil, divertido, engraçado, pode tirar o cavalinho da chuva, montar e galopar para ir se tratar no primeiro pinel que encontrar pelo caminho. Pronto, falei.

O Alemão, apelido pelo qual tratamos o Alzheimer, é tão assustador quanto aquele outro alemão que mesmo depois de morto e enterrado ainda nos assusta por meio de seguidores obtusos. Um sacudiu o mundo com seu horror; o outro sacode famílias ao eliminar quaisquer zonas de conforto.

Atenção, cuidado, muito cuidado, pois sem o reconhecimento e a aceitação da presença do Alemão o futuro da família se esfacela de fato. Entendo a dificuldade em aceitá-lo, a rejeição, afinal, quem em sã consciência se dispõe a acolher um alemão que entra com os dois pés na sua casa e chega mandando, impondo mudanças, ameaçando tirar o juízo de todos, não só da anfitriã ou anfitrião, chega disposto a acabar com o parco conforto familiar? A princípio, ninguém quer receberesse visitante, mas vou dizer uma coisa, acolher o Alemão não é uma opção, trata-se de uma necessidade. Como assim? Falo por experiência própria, infelizmente.

Como dizem por aí, o mar não está para peixe, afinal, vivemos em um tempo de absoluta incerteza e muita angústia.

Para os velhos, o isolamento social continua sendo a melhor opção para resguardar a vida, mas velhices são velhices e na sua diversidade percebemos em muitos a depressão de mãos dadas com o isolamento, enquanto outros tantos insistem em mostrar a velhice como um instante surpreendente capaz de revelar velhos dispostos a fazer parte deste mar turbulento.

Dorival Caymmi (1914 – 2008), compositor baiano, fez do mar o principal tema de suas canções, e nos versos da famosa Suíte do Pescador cantarolamos a jangada que se lança nos prováveis perigos que precisam ser desbravados.

Pois bem, o mar não está para peixe, mas se faz urgente nos vestirmos de coragem para explorar as tantas incertezas do futuro.

Navegamos nas dúvidas permitindo que a fé possa nos guiar.

Seguimos em frente nas descobertas que fazemos ao perceber que estamos perto mesmo que distantes. Aprendemos a selecionar apenas o essencial e a nos favorecer com aquilo que realmente faça sentido.

Atividades que relaxam são bem vindas assim como as músicas que ouvimos e que fazem bailar a alma.

A maré está revolta, enquanto a calmaria não chega, deixamos Caymmi e Adoniram Barbosa despertar a alegria de cantar e colorir

“Se Deus quiser quando eu voltar do mar
Um peixe bom eu vou trazer

Meus companheiros também vão voltar
E a Deus do céu vamos agradecer”

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